O ex-executivo da Odebrecht Márcio Faria afirmou em depoimento ter sido procurado por Marcelo Odebrecht porque o ex-ministro Antonio Palocci havia cobrado o pagamento de propina para o PT em razão de um contrato assinado entre a empreiteira e a Sete Brasil para construção de seis sondas do pré-sal (assista ao vídeo acima, a partir de 2 minutos e 15 segundos).
Segundo Faria, porém, o percentual que teria sido exigido pelo ex-ministro não foi pago porque "passou o tempo" e a Polícia Federal deflagrou a Operação Lava Jato.
Márcio Faria é um dos ex-dirigentes da Odebrecht que fecharam acordo de delação premiada no âmbito da Lava Jato. Ele deu a informação ao prestar depoimento ao Ministério Público Federal, no ano passado.
O G1 buscava contato com a defesa de Antonio Palocci até a última atualização desta reportagem. Em depoimento ao juiz Sérgio Moro nesta quinta (20), o ex-ministro negou ter pedido, interferido ou defendido interesses da Odebrecht ou da Sete Brasil.
A delação
Ao prestar depoimento, Márcio Faria disse que, em 2011, foi lançado um edital para construção de 21 sondas para o petróleo do pré-sal. O consórcio composto pela Odebrecht, segundo o delator, venceu a corrência para construir seis dessas sondas. "Uma vez assinado o contrato, aí [que] apareceram as solicitações de vantagem indevida", disse.
Aos investigadores, Faria, então, relatou que Pedro Barusco, ex-gerente de Serviços da Petrobras e à época funcionário da Sete Brasil, procurou o consórcio "solicitando vantagem indevida". Esse pedido, disse o delator, seria de 65% para o PT e 35% para a "casa" – o ex-executivo não explica o que seria a "casa"
"Passou um tempo, fui chamado pelo Marcelo Odebrecht dizendo que havia sido procurado pelo Antonio Palocci, onde ele cobrou do Marcelo essa propina. [Queria] os 100% do 1% para o PT", disse o delator.
"O Marcelo disse que desconhecia o assunto, que não sabia do que se tratava, que não iria entrar em assunto operacional e que não deu maiores informações ao ex-ministro Palocci. Em seguida, Marcelo me chamou e perguntou o que estava acontecendo. Contei toda essa história para ele. [...] Conclusão: passou o tempo, veio a Lava Jato, e não pagamos o percentual que seria devido ao PT", concluiu o delator.
Palocci na Lava Jato
Ministro da Fazenda no governo Lula e ministro da Casa no governo Dilma, Antonio Palocci foi preso pela Polícia Federal na 35ª fase da Operação Lava Jato, no ano passado.
Ex-prefeito de Ribeirão Preto (SP), o petista já teve pedidos de liberdade rejeitados pelo Superior Tribunal de Justiça e pelo Supremo Tribunal Federal.
Ao prestar depoimento ao juiz federal Sérgio Moro nesta quinta-feira (20), Palocci disse, entre outras coisas, que pode apresentar à Justiça "fatos com nomes, endereços, operações realizadas e coisas que vão ser, certamente, do interesse da Lava Jato".
Ainda no depoimento, o ex-ministro disse que essas informações podem render "mais um ano" de Lava Jato.
O movimento do ex-ministro, segundo o colunista do G1 Gerson Camarotti, foi tido entre dirigentes do PT como uma espécie de "sinalização para o potencial de uma futura delação".
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