Simone Tebet (MDB) esteve na sede do JD1 Notícias e em entrevista, a senadora fala de eleição, Congresso, governo federal e aborto. Confira.
JD1 Notícias – Esse episódio da eleição no Senado foi a “cereja do bolo” de sua carreira?
Simone – Foi sim, mas acho também que ele me deu mais visibilidade em Mato Grosso do Sul, porque até então eu percebia que meu trabalho estava tendo mais destaque nacional . Agora foi surpreendente, pois não tinha noção nenhuma da importância da eleição da presidência do Senado para o povo brasileiro, eu mesmo não tinha essa dimensão. Eu entendia, naquele momento, que a sociedade não queria mais o Renan Calheiros . Tive que fazer uma escolha, ou eu rompo com meus companheiros e mostro o que as ruas estavam pedindo, que é uma nova política e de qualidade, ou iria ter que me submeter a uma série de situações que eu não concordava. Nessa decisão eu fui pro enfrentamento e infelizmente “quase que sozinha”, tantos senadores homens e logo eu tomei peito, não foi fácil, o desgaste é muito grande, além da pressão. O fato de ter ido até o fim e conseguir organizar um grupo de senadores , à ‘frente da resistência’, trouxe o êxito, foi uma vitória e tenho a sensação de dever cumprido com a população.
JD1 Notícias – Como você avalia esse começo do governo Bolsonaro?
Simone Tebet – Eu prefiro entender e imaginar que o governo Bolsonaro começou no dia 14 de fevereiro, pelas trapalhadas, pelo mau começo e pelo fato de termos que compreender também que o presidente ficou hospitalizado em um momento fundamental do retorno das atividades Legislativas, não ter tido as opções de ter um quadro completo do que estava acontecendo no Brasil. Se formos olhar para trás, vemos um bate cabeça e tem até ineditismo nisso que estou dizendo, é uma inexperiência, em minha opinião, o Brasil não pode conviver com esse tipo de comportamento do governo federal. Acho que ele [Bolsonaro] precisa usar um freio, fazer uma arrumação, resolver o problema dentro de casa com os filhos e botar ordem no ‘governo’.
JD1 Notícias – Há uma cobrança das ruas muito forte, no sentido de se endurecer punições. Como ter equilíbrio nisso?
Simone Tebet – Há um radicalismo na rua e é natural, por conta dos excessos cometidos pela má política como corrupção, má gestão, indiferenças e tudo aquilo que a sociedade mais anseia, que são serviços públicos de qualidade e ter acesso à saúde digna, escola competente, polícia, que dá a sensação de segurança e que saiba olhar por todos. Diante de tudo isso é compreensível que, embora não seja desejável, as ruas estejam radicalizadas em pontos extremados. Hoje nós temos a esquerda e a direita, se a pessoa falar que é centro e pregar a democracia por meio dessa posição para unir as diferenças, esses discursos irão cair em ouvidos surdos. O Congresso Nacional tem ali dentro diversos segmentos representados, gente de esquerda e direita, mais conservadores e progressistas, aqueles que pensam que se combate violência com medidas mais duras e outros que acham que deve-se atacá-la com educação de qualidade, com um amparo maior do Estado. Essa pluralidade do Congresso é o que sustenta a democracia, qualquer medida, por mais radical que seja, ela entra de um jeito e sai de outro, bem peneirada e mais equilibrada depois dos debates e audiências públicas.
JD1 Notícias – O Congresso é, então, o ponto de equilíbrio do país?
Simone Tebet – O ponto de equilíbrio e a casa de democracia por excelência, pois o Congresso tem mais do que nunca a responsabilidade de ser o poder moderador, nunca o Senado federal foi tão chamado à responsabilidade quanto neste momento. Acabei de assumir a presidência da CCJ e os primeiro projetos que chegaram para designar relatoria, em quase 90% dos casos é de endurecimento de penas, algumas vezes até no excesso, extrapolando o fato de que a Constituição dá direitos e garantias fundamentais no devido processo e tudo mais. São projetos que vêm representando certo segmento da sociedade, e estou designando relatores equilibrados, que não pendem nem para um lado e nem para outro.
JD1 Notícias – O Mato Grosso do Sul tem a presidência de três comissões do Senado federal e dois ministérios. Durante sua vida política, este é o melhor momento para o Estado?
Simone Tebet – Isso vai depender se nós conseguirmos, por meio de tanto espaço e tanto poder, dar resolutividade para MS. Não podemos esquecer os grandes nomes que passaram e que deram uma alavancada e projeção ao MS. Gostando ou não, o papel do Marun assessorando o Temer nesses dois anos conseguiu trazer cerca de um bilhão de reais em investimentos, isso projeta o Estado e abre caminho para pessoas competentes terem visibilidade, como a Tereza Cristina no agronegócio, o Mandetta na saúde e três senadores presidindo comissões permanentes do Senado. Agora que chegamos onde queríamos, temos que mostrar serviço.
JD1 Notícias – A senhora vê o risco de tanta presença em cargos importantes não resultar em produtividade?
Simone Tebet – Tudo vai depender do cenário nacional, se estamos em crise e não há dinheiro em caixa. O défict anual só cresce e temos gasto com a previdência de R$ 300 bi por ano, o que significa que quando fechamos o orçamento, não conseguimos nem 4% da arrecadação de impostos da população. Quando temos um país em crise, mas cuja crise maior é fiscal e interna, nem se trata da externa, pois aqui já estamos vendo sinais de recuperação, só vamos ver uma resolutividade com um país andando no eixo, saindo da crise e voltando a crescer e se desenvolver. Acredito que em menos de um ano vamos ver uma recuperação econômica externa e fiscal com a aprovação da reforma trabalhista. A confiança vem na capacidade de competência das pessoas que foram colocadas nos cargos relevantes no governo federal.
JD1 Notícias – Já vindo para MS, como a senhora vê o seu futuro político? Candidata a governadora ou buscando uma reeleição?
Simone Tebet – Eu já cheguei mais longe que os meus maiores sonhos. Quando entrei na vida pública eu resisti por seis anos, apesar de meu pai insistir, pois ele pensava que eu tinha condições, já que eu era uma pessoa da área jurídica, muito estudiosa e determinada, e foi isso o que chamou a atenção do meu pai, que achou que eu teria repercussão por causa do bom trabalho na política. Nunca me imaginei política, eu gosto daquela política de bastidores. Quero dizer muito claramente que realizei o meu maior sonho, que foi um dia sentar na cadeira que meu pai sentou, mas sentar com honra. Se eu tivesse que terminar meu mandato naquele dia da apuração, em que nós conseguimos derrotar Renan Calheiros, ficaria feliz, pois contribui com a sociedade e senti que 95% do povo brasileiro queria um novo caminho dentro do Senado federal. Tenho quatro anos pela frente de muito trabalho, o Brasil precisa realmente de todos nós. Estou extremamente otimista com o cenário que se apresenta daqui pra frente. Posso voltar para casa, tentar reeleição, ser candidata à governadora, mas seja da forma que for preciso focar no presente e desempenhar bem a missão para qual a população me elegeu.
JD1 Notícias – Por conta do infortúnio do André, Junior Mochi e Marun sem mandato, seria o seu nome hoje o da grande liderança do MDB no Estado?
Simone Tebet – Eu não sei se me vejo assim, sou mais uma militante e filiada. Quando falam do MDB pra mim, eu vejo que ele sempre foi aquele partido dos ideais democráticos que nunca fugiu da luta, ele cresceu no momento mais difícil da historia do Brasil. O MDB sempre foi um partido tão grandioso que nunca vou conseguir me enxergar como protagonista dentro dele. Sinto-me como uma mera filiada e fico feliz de ter dado o primeiro grito, talvez, dentro do partido, da cúpula que levava “a velha política”, pelo qual o partido se desviou do caminho e se perdeu um pouco dos seus ideais. Não me vejo presidente estadual do MS, mas acho que é preciso dar oportunidade para gente nova, com valores diferentes e em busca de talentos para trazer ao MDB. Eu, junto com André Puccinelli, Marun e outros colegas de bancada teremos acompanhar o novo que está chegando, mas não ocupar o espaço deles. Eu mesma me coloco mais no ponto da experiência do que do protagonismo, acho que ser protagonista fica para quem está entrando agora, ou seja, tem que ser dado para a juventude do MDB.
JD1 Notícias – O projeto do aborto foi desengavetado e proibido também em casos de estupro e violência?
Simone Tebet – Não e desengavetamos, inclusive, com esse compromisso e o projeto chegou para mim a fim de designar relator e já com a emenda evitando o retrocesso. Isso seria uma grande perda de direitos, que eu e a bancada feminina não iríamos admitir. Desarquivamos o projeto, o Senado já apresentou a emenda e já designei relatora, que é senadora Juiza Selma. O projeto vem exatamente assim: deixa o direito à vida no caput e nos incisos, e um dos incisos, a princípio, diz “o direito à vida está resguardado desde a sua concepção, ressalvados os casos já previstos no Código Penal”, e nessa ressalva vem os casos de estupro, situações em que há risco para a própria vida da mulher, em que, obviamente, o aborto se faz necessário e é direito da mulher escolher, se vai levar a gestação adiante ou não. E é nesses casos que nós não aceitamos retrocesso na questão, o direito da mulher é único e ela tem absoluta liberdade sobre o próprio corpo. Homens e mulheres têm seus direitos até o momento que começa o direito de outro, que, no caso, é a geração do feto. O que precisa é o Estado dar suporte à mulher para completar a gestação, quando muitas vezes ela não tem condições e a preparar psicologicamente até para uma adoção, se não quiser ficar com a criança, que é um direito também que lhe assiste. O amparo do Estado deve estar presente. Não é um posicionamento radicalizado, buscamos um meio-termo.
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