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Polícia

#ExposedCG coloca agressores de mulheres na vitrine de rede social

06 junho 2020 - 10h45Gabriel Neves    atualizado em 09/06/2020 às 10h46

Na última terça-feira (2), a #exposedcg, que consiste em encorajar denúncias de abuso e exposição do suposto agressor, se tornou um dos assuntos mais comentados do Brasil. Relatos e mais relatos de meninas, maiores e menores de idade, que suspostamente sofreram abusos, assédio e até mesmo estupros de jovens, professores, artistas e profissionais reconhecidos de Campo Grande.

“Tem um menino amigo de todos parece bonzinho no role, vive no Bar da Tia, magrelo alto e faz biologia. Ele fica agressivo quando muito bêbado e há pouco descobriram que ele espancava a ex-namorada dele”, consta no primeiro, de centenas de relatos que seriam publicados ao longo do dia.

Na segunda publicação, uma thread - quando uma faz diversas publicações “uma embaixo da outra” formando uma espécie de texto em “rolo” – cerca de 40 relatos de abusos, assédios, violência e até mesmo estupros. A thread teve mais de 2 mil curtidas e 800 compartilhamentos, até o momento em que essa matéria foi escrita, chocando com a veracidade com que as histórias eram contadas.

O JD1 conversou com a E.C. (iniciais que usaremos para identificar a pessoa que começou movimento online, no intuito de preservar sua identidade), durante a entrevista ela revela que foi um choque o tamanho da repercussão que o movimento ganhou. “Eu tinha feito uns 50 relatos mais ou menos e fui dormir tarde, porque eu fiz isso na madrugada, quando eu acordei tinham muitas ligações no meu celular, de todas as pessoas possíveis, meu Twitter estava explodindo, eu não conseguia nem entrar porque ele foi derrubado durante a noite e não estava entendo nada. Minha irmã falando pra eu atender o celular tinha jornalistas atrás de mim, um B.O já tinha sido feito contra mim, tinham advogados querendo falar comigo, foi um caos”, relatou E.C.

As dezenas de relatos iniciais foram apenas o inicio da projeção que o movimento iria ganhar, E.C explica que no outro dia havia mais de 300 mensagens em seu twitter expondo supostos crimes e criminosos. A partir desse momento a hashtag “explodiu”, diversos nomes foram expostos, contas anônimas foram criadas e linhas de textos foram escritas contanto momentos não vividos, mas sofridos por diversas meninas. “Fiquei com um menino na casa de uma amiga, ele me levou para uma parte escura da casa, na hora eu estava bêbada e não vi problema nisso. Estávamos nos beijando de boa até que ele tentou enfiar a mão por baixo do meu short, eu falava que não e ele insistia”, conta um dos relatos.

Os crimes ali divulgados são inúmeros e fortes, mas de acordo com a advogada Ronea Maria Machado Batista, Presidente da Comissão De Combate À Violência Doméstica E Familiar Contra A Mulher (COMCEVID) eles precisam de uma formalização, para que cada caso seja analisado e os autores sejam enfim punidos. “É necessário formalizar o relato. Inclusive é o primeiro passo”. Como mulher, Ronea entende o sentimento colocado em cada palavra escrita naqueles tweets, mas frisa a importância da formalização das denuncias.

“Sabemos que a dor compartilhada, dói menos, e ao expor uma violência, você de certa forma, desabafa e incentiva outra vítima a fazer o mesmo. Mas, é muito importante que sejam feitos boletins de ocorrência, para que possam ser apurados os fatos, e que os criminosos sejam punidos”, explica a advogada.

Não precisa de muito tempo, basta algumas rolagens para baixo que é possível perceber exposições envolvendo professores de colégios públicos e particulares de apo Grande, a presidente da COMCEVID afirma que a partir de denuncia desses servidores e funcionários, é aberto um Processo Administrativo Disciplinar (PAD), para que seja apurado de forma administrativa o caso concreto, e se verifique possíveis penalidades a esse profissional.

Apesar da grande força na internet, o número de denúncias formais não foi o mesmo na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), de acordo com a delegada Anne Karine, que está investigando os casos que envolvem o #eposedcg, apenas um boletim de ocorrência foi feito até a sexta-feira (5), registro essencial para que os casos sejam investigados. O caso registrado já está sendo registrado e o suspeito já foi ouvido.

De acordo com o advogado Murilo Marques, são diversos crimes relatos entre os relatados na hashtag, os mais decorrentes e com maiores penas judiciais, que foram expostos, são estupro, violação sexual mediante fraude, assédio sexual e importunação sexual.

Murilo explica que em casos de estupro, o autor pode ser condenado de 6 a 10 anos de prisão, podendo chegar a 12 caso a vítima seja menor de idade ou tenha sofrido lesão corporal de natureza grave, em casos onde a vitima morre a pena chega a 30 anos de prisão.

O advogado explica que os outros crimes têm penas menores, mas ainda sim é importante que sejam denunciados, crimes de violação sexual mediante fraude, ou seja, ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima, pode acarretar em penas de até 6 anos de prisão.

A pessoa que praticar crime de importunação sexual pode ser condenada a 5 anos de prisão e assédio sexual de 1 a 2 anos, como explica Murilo Marques.

A reportagem entrou em contato com ao menos cinco nomes citados nas postagens da hashtag “#exposed”, um deles não atendeu nossa equipe, os outros quatro decidiram não se manifestar e informaram que medidas judiciais já foram tomadas.

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