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OPINIÃO: A SOLUÇÃO DE DOIS ESTADOS: PORQUE ELA NÃO É POSSÍVEL 

09 outubro 2023 - 16h01Sasha van Lammeren    atualizado em 09/10/2023 às 16h48

Dado os últimos eventos em Israel, e o tanto que a mídia, políticos e ideologias tem falado sobre isso, percebo pouca reflexão sobre o que realmente está em jogo. Neste texto, irei resumir de forma didática para o leitor, dando-lhe a oportunidade de compreender melhor o jogo político por detrás deste imbróglio.
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Ao longo da história, diversas iniciativas foram formuladas para que se chegasse a uma solução definitiva de paz para a região da Palestina. A seguir, para que o leitor tenha uma compreensão mais clara, farei uma pequena cronologia compreensiva.
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- 1947: Plano de Partilha da Palestina:

No plano, o território chamado Palestina seria dividido entre judeus e árabes muçulmanos, tendo Jerusalém como uma cidade partilhada pelos dois países (uma capital de duas nações). Os territórios de Canaã (o que inclui regiões históricas das tribos judaicas originais do tempo do Reino de Israel) ficariam com Israel.

O território do estado árabe da Palestina se concentraria em Gaza e na Cisjordânia.
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- Guerra árabe-israelense de 1948:

Este plano de partilha, embora aprovado pela ONU, foi rejeitado por todas as nações árabes do Oriente Médio. Após a declaração de independência de Israel, eclodiu um conflito militar entre o recém-nascido país e as nações árabes em seu entorno (a Liga Árabe, liderada pela Arábia Saudita).

Israel saiu vencedora deste conflito, e nele, acabou conquistando parte dos territórios que estavam destinados para o Estado Palestino. Sobrou para os árabes a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.
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- Guerra dos Seis Dias (1967):

A Palestina nunca foi reconhecida oficialmente pelo Ocidente, visto que as nações árabes nunca reconheceram o Estado de Israel. Após o bloqueio pelo Egito do Estreito de Tiran (que dá acesso ao Mar Vermelho aos navios israelenses), o governo de Israel declarou tratar-se de um causus beli (ou seja, uma causa de guerra), e declarou guerra ao Egito. Com vitória esmagadora frente aos árabes, Israel saiu-se como potência militar e a partir daquele momento, começou a controlar mais territórios árabes no seu entorno.
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Isso inclui, também, o começo dos assentamentos judaicos na Cisjordânia. Tais assentamentos e o controle que Israel exerce sobre grande parte do território que seria do Estado da Palestina faz com que a ‘Autoridade Palestina’, único órgão de Estado da Palestina reconhecido internacionalmente desde 1974, tenha menos controle sobre o território que ela intende governar. Hoje, a Palestina resume-se a colchões territoriais na Cisjordânia e a Faixa de Gaza.
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- 2023 e o ataque do Hamas:

Para compreender a gravidade do ataque do Hamas contra o território de Israel, precisamos levar em conta duas coisas. A primeira, o quão efetivo o ataque foi e como ele se diferencia das hostilidades já conhecidas deste grupo terrorista. A segunda é o contexto geopolítico regional e as prioridades dos governos locais.
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O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, voltou ao poder em 2022 depois de apresentar-se como candidato da segurança. Sua principal plataforma eleitoral baseava-se em tornar a vida do israelense mais segura. Seu partido, Likud, considerado de Direita ou Extrema-Direita, versa sobre uma agenda política favorável a expansão dos assentamentos e ao controle territorial de Israel. Portanto, anti uma solução de Dois-Estados. Para o leitor ter uma ideia, há também outros partidos como o Yesh Atid (Centrista e membro da coalizão governista), e o Trabalhista (de esquerda, e oposição e em declínio).
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O fato do ataque do Hamas ter sido tão bem organizado, demonstra que houve por um lado falha no sistema de segurança israelense (colocando pressão política no governo para que ele mostre mais controle e segurança), e ao mesmo tempo, colocou em xeque a capacidade efetiva do Hamas em avançar num conflito armado.
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No caso da Autoridade Palestina (o governo de facto do pretenso Estado Palestino), há dois partidos principais. O Fatah (de centro-esquerda e minoria no atual poder legislativo), e o Hamas (de direita e com maioria no parlamento palestino). O Fatah é o partido mais pacífico, e o único que realmente teria condições de sustentar uma solução de dois-estados (como previsto pela ONU desde o começo). Já o Hamas não reconhece Israel como Estado e nunca irá reconhecer, de modo que o estado de guerra permanente já estava estabelecido desde sempre entre este grupo e Israel.
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O que acontece de diferente nestes ataques de 2023 é que, agora, existem evidências concretas de que o ataque foi orquestrado pelo Irã. Embora o governo de Teerã negue qualquer envolvimento, o suporte direto e indireto ficou evidente publicamente quando após os ataques o maior vencedor foi, precisamente, o Irã.
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Acontece que neste ano, negociações entre Israel e Arábia Saudita (com mediação dos EUA) tomaram lugar, criando condições cada vez mais favoráveis para uma normalização de relações entre os dois países. Se estas negociações avançassem, o maior perdedor seria o Irã, que além de adversário geopolítico e religioso da Arábia Saudita, é também adversário de Israel. Logo, um ataque palestino que desestabilize quaisquer acordos é, sempre, um motivo de comemoração para Teerã.
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- Porque devemos ficar atentos:

O motivo pelo qual esta situação é delicada vai além da questão regional. O Irã é aliado da Rússia e da China, enquanto a Arábia Saudita mantém relações amistosas com os EUA e a União Europeia. Além disso, apesar de Israel ter mantido uma relação neutra diante do conflito da Ucrânia, o presidente Zelensky anunciou apoio a Israel, colocando Hamas e Rússia no mesmo balaio.
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A China, embora ainda calada diante da situação, pode ser vista como pertencente do ‘Eixo Oriental’, que inclui Rússia e Irã. Logo, há de se levar em conta os desdobramentos de um possível escalonamento do conflito, e como os principais atores políticos irão agir. Finalmente, uma conclusão disso também se tira. A de que a solução de dois-estados proposto pela ONU, com Netanyahu no poder e o Hamas também, é impossível.
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Sasha van Lammeren - Jornalista, Mestre em Comunicação Política e  Doutorando em Ciências Políticas

*Transcrito do Grupo "Liberalismo Clássico"

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