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Entrevista A

“Todos têm direito à saúde e à igualdade”, afirma José Mauro

O médico ortopedista é titular da Secretaria Municipal de Saúde Pública (Sesau)

18 maio 2019 - 09h00Rayani Santa Cruz e Mauro Silva    atualizado em 18/05/2019 às 11h45

Médico ortopedista, José Mauro Pinto de Castro Filho assumiu, em abril deste ano, a Secretaria Municipal de Saúde Pública (Sesau). Formado em medicina pela Unoeste-SP, o médico chegou em Campo Grande em 2006. Na entrevista ao Jornal de Domingo, José falou sobre os rumos que a saúde do município deve tomar e as medidas a serem realizadas para resolver alguns problemas na assistência básica .

JD1 Notícias – Como vem sendo seu relacionamento com os médicos, desde a sua posse?

José Mauro – Temos tentado buscar o diálogo e uma aproximação, além de procuramos entender o cenário em que eles estão envolvidos, como os atendimentos e a falta de condições de trabalho, não só com os médicos, mas com todos os profissionais de saúde. Vamos ouvir a demanda destes profissionais em relação às melhorias que podem ser feitas. Em relação aos médicos, percebemos, quando assumi a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), que há uma falta de profissionais. Houve uma perda de pelo menos 520, mas realizamos a contratação de alguns médicos para repor as faltas. Vamos realizar mais um concurso público, já foi até assinada a contração da empresa responsável pelas realizações das provas, além da organização. Também temos a questão da epidemia de dengue, já que são 29 mil notificações. Quando assumi eram 22 mil, de modo que acabamos encontrando a saúde mais ou menos neste cenário, com falta de médicos e epidemia de dengue. Logo no início da minha gestão, à frente da Sesau, focamos na contratualização da Unidade do Trauma, foi a primeira situação que acabamos nos envolvendo, de acordo com as demandas da Santa Casa, juntamente com o secretário de Estado, Geraldo Resende, para que a proposta do hospital fosse aceita, tanto pelo município como pelo governo estadual, pondo fim a uma discussão de seis meses. A proposta inicial da Santa Casa era de aumentar para 160 cirurgias eletivas de pequeno trauma na ortopedia, 34 leitos clínicos e a oferta de alguns exames, como tomografias e outros, para que a unidade pudesse funcionar na sua plenitude. Mas, faltam ainda dez leitos do Centro de Terapia Intensiva (CTI), que ainda estão ocupados por pacientes da unidade coronariana. O centro cirúrgico ainda não está em funcionamento e a resposta do hospital é que não houve ainda a necessidade de abrir o centro de cirurgia.  E, com a Unidade do Trauma, houve um desafogamento no Hospital Universitário.

JD1 Notícias –  As reclamações quanto à falta de algumas especialidades em postos de saúde e demora no atendimento são insolúveis?

José Mauro – Na questão da medicina básica, primária, estivemos, este mês, no Rio de Janeiro para visitar a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), que vai nos auxiliar na implementação da assistência básica. Analisarei o que deve ser avaliado com o prefeito e, se ele entender que seja uma situação viável, deveremos assinar uma parceria com a Fiocruz, que irá, inicialmente, implantar a medicina de família em três unidades da capital, servindo como modelo para as outras unidades. Outra questão que temos trabalhado é quanto às especialidades médicas, pois precisamos ter atenção para resolver a situação. Estamos analisando algumas propostas do próprio sindicato médico, para transformar a questão do vínculo contratual em horas para produtividade, o que já foi avaliado pelo Ministério Público e encaminhado à Justiça, que emitiu um parecer, de modo que deveremos ir à Câmara Municipal para que se possa ser modificado quanto à lei do município, para que consigamos resolver essa questão. A partir disso, conseguiremos tornar o serviço de especialidades atrativo.

JD1 Notícias –  Que projetos o senhor levará a Brasília, graças a sua proximidade com o ministro Mandetta?

José Mauro – O ministro tem proximidade com a classe médica de Campo Grande, e essa é a pergunta que todos fazem, inclusive, mas a minha indicação ao cargo foi pelo prefeito Marquinhos Trad, a decisão foi dele; o ministro Luiz Henrique Mandetta tem se mostrado empenhado e sensível à demanda da capital. Entregamos 12 projetos em Brasília e eles estão sendo analisados, como a questão da informática da nossa rede, o aumento do teto de média e alta complexidade,que é uma verba utilizada para adquirimos novos serviços, equipamento para o Serviço Móvel de Urgência (Samu), enfim, uma série de demandas, até mesmo de hospitais parceiros. Isso com o apoio do governo do Estado, para que possamos somar esforços junto ao governo federal.

JD1 Notícias –  Faltam remédios básicos no estoque do município?

José Mauro – Inicialmente, identificamos problemas internos na secretaria, houve troca de superintendências para tentar agilizar o processo de licitação e de compra, e hoje estamos colocando em dia a questão dos insumos e os medicamentos.

JD1 Notícias – O SUS é viável ou inviável, na sua opinião?

José Mauro – É um sistema que é garantido por lei e isso traz à tona uma situação que estamos vivenciando muito, que é a questão da judicialização da saúde, em que todos têm direito à assistência possível. Inclusive, é um tema que estamos debatendo muito, na esfera federal, estadual e municipal. Este mês, o governador Reinaldo Azambuja falou sobre os gastos do Estado, que somam em torno de R$ 68 milhões. O município gastou, no ano passado, pelo menos R$ 23 milhões, houve um gasto com todo medicamento para a rede, que atende 890 mil habitantes, foram gastos 18 milhões com medicamentos da lista do governo, que somos obrigados a fornecer. E, para atender 3.200 pacientes gastamos 23 milhões, de modo que houve uma inversão dessa curva e é o ponto que temos que discutir junto à Defensoria Pública, sistema judiciário, população, pois todos têm direito à saúde e também à igualdade dos serviços. Um ponto que cobrei na última conferência dos conselhos de saúde municipais, tema este que não havia na discussão, um assunto que impacta toda a saúde pública, que é a judicialização. Até quando teremos a garantia de tudo no SUS? Se for este o caminho, acredito que os investimentos devem ser muito maiores, pois a cobertura está curta.

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