“A PM é legalista, cumprimos com a lei”, diz comandante geral
Coronel Waldir Acosta, comandante da Polícia Militar do MS, falou também sobre segurança pública
23 NOV 2019 • POR Mauro Silva • 08h10O entrevistado da semana é o coronel Waldir Acosta, comandante-geral da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul. Ele abordou, ao longo da entrevista, temas como questões policiais, balanços, apreensões e segurança pública no Estado.
JD1 Notícias– Faltam policiais no efetivo da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul?
Coronel Waldir – Somos em 12 mil Policiais Militares, entre ativos e inativos. Estamos numa situação que não é o caso apenas de Mato Grosso do Sul, ocorre em todo o Brasil, em que as corporações estão com dificuldade no efetivo, tendo em vista que estamos passando por mudanças na legislação. Uma delas é a reforma da Previdência; muitos policiais foram embora de forma precoce, temendo que algum direito seu fosse violado, que perdesse algo no campo financeiro. Perdemos muitos policiais devido a isso. Mas, ainda compensamos o efetivo hoje por conta da tecnologia, temos empenhado drones e câmeras para auxiliar no serviço policial. Temos também a programação da corporação, da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), do governo do Estado, do ingresso de 500 Policiais Militares a cada ano. Já existe esse planejamento, feito pelo governador Reinaldo Azambuja, para fazer a reposição do efetivo da corporação.
JD1 Notícias– Como está a questão dos números da PM? O balanço traz resultados positivos, com boas evoluções?
Coronel Waldir – Aqui vamos apresentar três balanços. Um exclusivo da Polícia Militar, de 1º de janeiro a 17 de novembro, que é o balanço do trabalho preventivo e repressivo. Como, por exemplo, mais de 9 milhões de maços de cigarro contrabandeados, mais de 175 toneladas de drogas, 2.187 veículos recuperados, que eram produto de roubo ou furto; 834 armas ilegais, que foram tiradas de circulação; 4.638 pessoas que estavam com mandado de prisão foram detidas, sendo mais de 26 mil pessoas conduzidas à delegacia. E tivemos ações policiais preventivas, que resultam de operações, culminaram em mais de 25 mil apreensões e prisões. Mais de 917 mil pessoas abordadas e mais de 526 mil veículos abordados nas operações. Fiscalizações de trânsito, notificações, que foram realizadas por alguma infração administrativa, resultou em mais de 71 mil notificações. Foram mais de 8 mil remoções ao pátio do Detran e mais de 574 mil fiscalizações ambientais. Esse é o balanço exclusivo da Polícia Militar, do trabalho preventivo e repressivo. Aqui vale destacar o grande número de apreensões de drogas. Elas não ficariam aqui no nosso Mato Grosso do Sul, a maioria ia para algum outro Estado. De modo que acabamos trabalhando também para os demais Estados, por tirar de circulação esse material tão nocivo e tão agressivo à sociedade, as drogas. E o outro balanço é um comparativo entre janeiro a outubro de 2018 e 2019. Esse comparativo é feito com 12 itens aferidos pela Sejusp, contém nossas reuniões de trabalho mensal. E nós, somos de forma direta e indireta cobrados para reduzir esses índices. Estamos conseguindo reduzir, com a PM, Polícia Civil, Agepen, Corpo de Bombeiros, adotando medidas socioeducativas, por trabalharmos em conjunto com a Sejusp, secretário de Justiça e Segurança Pública, Antônio Carlos, e com o governador Reinaldo. Trabalhamos de forma conjunta para que possamos reduzir o número de crimes. Vale destacar que, desses 12 itens, tivemos até 48% de redução de roubo seguido de morte e 15% de redução de homicídio doloso. E o terceiro balanço que trouxemos é o de atendimento, também exclusivo da PM, que atende os policiais na questão psicológica, social e em alguma questão que às vezes precisa de um apoio psíquico-social. Para o policial que está com indícios de depressão há atendimento especializado. De janeiro a julho, foi o período que fizemos balanço, mais de 1.800 policiais foram atendidos e encaminhados. Com esses balanços estamos mostrando à sociedade o trabalho da PM e da Sejusp.
JD1– E com relação à participação de policiais em atividades ilegais, como nas apreensões de cigarro contrabandeado, por exemplo. Isso não poderia ser detectado antes de acontecer?
Coronel Waldir – Como eu disse antes, nosso efetivo, entre ativos e inativos, é de 12 mil militares. É um número considerável. Essa parcela de policiais que foram presos ultimamente, sendo alguns só pela Corregedoria e outros pela Corregedoria junto com o Gaeco, é um trabalho de investigação e preventivo, a fim de tirar o PM de circulação, para que essa ramificação não aumente. Não chega a 0,10%, é menos de meio porcento esse número de presos, porém, dói na carne fazer esse tipo de serviço e tirar de circulação esses bandidos que são policiais e que estavam do outro lado, trabalhando para o crime, mas que precisam ser tirados da corporação. Dói também quando isso afeta os seus. Porém, este é um trabalho muito forte da nossa Corregedoria. Por vezes, ela tem realizado, por meio das diligências e investigações, um trabalho de escuta, tirando-os do trabalho, às vezes até antes de serem pegos nas barreiras. Temos conseguido fazer isso. Trabalhamos com os comandantes, damos orientações aos policiais. Se por manter esse policial dentro da corporação temos dificuldade, fora e preso a dificuldade é bem maior, pois ele vai ter que gastar o seu salário com advogado, deixar sua família sem amparo, perder sua profissão e ainda estará preso. De qualquer maneira, o trabalho é feito, sim, pela Corregedoria e de forma muito enérgica. Costumamos usar um ditado popular, “não procuramos pêlo em ovo”, mas quando temos uma denúncia buscamos fazer as prisões quando necessário e conduzir as investigações junto com a Corregedoria, a fim de punir esses policiais que não estão do lado das leis, mas querem agir contra elas.
JD1 Notícias– A PM tem boa estrutura em armamento, veículos? Como está a situação, atualmente?
Coronel Waldir – O armamento de porte hoje da PM é a pistola “.40”; todos os policiais têm uma arma dessa para o serviço e levar para a sua residência, para andar com ele 24h. Temos armas de reserva, caso estrague ou a arma em questão precise ser periciada por alguma situação em que ele precisou utilizar, às vezes para se defender de algo, aí ela será periciada. E dispomos de arma reserva para repor. Temos as forças especiais, em que cada policial anda com duas armas, que é a arma de porte e a segunda arma de apoio, se necessário. Temos também as carabinas “.40” e calibre 12 e temos fuzis calibre 556 e calibre 762, utilizadas por alguns grupos, como, por exemplo, a força tática, o batalhão de choque, o batalhão de operações especiais e grupos na região de fronteira. Hoje, em matéria de armas estamos bem servidos, porém sempre buscamos melhorar e atualizar o armamento. Em relação às viaturas, hoje todos os batalhões têm veículos para trabalhar, e estamos recebendo mais 43 viaturas, adquiridas com recursos da União e do Estado. Estamos dividindo os veículos conforme as necessidades de cada local, para realizar as entregas. São viaturas L-200, câmbio automático, com banco de couro, com toda a estrutura que o policial precisa para desempenhar sua função. Também estamos com o plano de trabalho de trânsito, que tem o recurso para a compra de mais viaturas. A Polícia Militar Rodoviária também trabalha em um plano para a aquisição de novas viaturas, bem como a Militar Ambiental.
JD1 Notícias– Como está a situação hoje, em ralação ao atrito que houve entre guardas municipais e policiais militares?
Coronel Waldir – A Guarda Municipal faz um trabalho excelente, junto aos logradouros do município e faz um trabalho muito importante para a sociedade onde eles estão presentes, que é Campo Grande, Corumbá, Bonito, Dourados e Ponta Porã. A PM, dentro de suas possibilidades, tem apoiado os guardas municipais com cursos e armamentos. Alguns armamentos que a Guarda está utilizando foram doados pela Polícia Militar. Realmente, há problemas e eles, por vezes, acabam gerando a abertura de inquéritos policiais, tanto por parte da Guarda quanto por parte da PM, a fim de apurar os fatos. Há circunstâncias judicializadas que a Justiça vai verificar o ocorrido, se a legislação é realmente pertinente ou não. Mas as corporações são importantes, elas são maiores, às vezes, que os problemas. E os problemas, quando surgem, são apurados. É nas apurações que se diz quem está errado e quem está certo. As corporações trabalham em conjunto, cada uma desenvolvendo seu papel constitucional, que é muito importante para a sociedade.
JD1 Notícias– A PM evita entrar em alguns bairros durante a noite?
Coronel Waldir – Na realidade, há alguns Estados da federação com esse tipo de problema. Tem Estados, como o Rio de Janeiro, em que não se entra só com equipe policial, mas com mais de uma equipe. No caso de Mato Grosso do Sul e Campo Grande, não temos esse tipo de problema. A PM vai nos bairros, se for necessário pedir apoio isso é feito. Se tiver alguma reação armada, o policial, com certeza, vai responder à altura, como tivemos recentemente, duas reações contra o batalhão de choque da PM, ação que resultou na morte de três a quatro meliantes que atiraram contra a nossa guarnição. Em uma das ocorrências foram três mortos; na segunda foi um morto. A PM atua por garantir o cumprimento da lei, é uma corporação legalista, temos que cumprir a legislação, porém, quando o Estado recebe uma reação armada ele tem que responder, conforme a legislação.
JD1 Notícias– Quando começam as operações de fim de ano da PM?
Coronel Waldir – Há o setor de planejamento da corporação. E assim ele é feito, junto aos comandantes, para na primeira ou segunda semana de dezembro começarmos a operação. Já é rotineiro, em todos os anos é feito assim, as operações e o reforço de policiamento das áreas em que há maior concentração de público, onde o cidadão vai fazer compras, vai sacar o dinheiro do 13º. É importante ter o reforço de policiamento nesses locais específicos. Às vezes até o acompanhamento de aeronaves, usando helicóptero, drones, policiais a cavalo, de viatura, a pé, de motocicleta, fazendo o reforço. Já está sendo realizado planejamento para que o reforço seja executado. A parte administrativa, operacional, de alguma forma esse reforço será feito e colocado ao dispor da nossa comunidade.