Brasil

Leilão da Petrobrás bate recorde, mas fica com saldo abaixo do esperado

Petroleira arrematou dois maiores blocos de petróleo e tirou o interesse de investimento dos gringos

7 NOV 2019 • POR Sarah Chaves, com informações do Exame • 08h15
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O megaleilão do pré-sal realizado pela A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), na quarta-feira (6), foi marcado por decepção. Após a Petrobrás arrematar os blocos de Búzios e Itaipu, que são os de maiores reservas de petróleo, as empresas entrangeiras desprezaram a disputa pelos outros dois blocos.

O leilão do pré-sal frustrou o investidor que esperava uma arrecadação maior, deixando a Petrobras quase sozinha na disputa. O Ibovespa foi penalizado e fechou em queda de 0,33%, em 108.360 pontos, ao passo que as ações da estatal sofreram forte oscilação. Não houve consenso entre os analistas sobre como o resultado afeta o futuro da companhia.

Após arrematar os blocos de Búzios e Itapu, a Petrobras reverteu os ganhos na Bolsa em poucos minutos. Chegou a cair mais de 4% e até teve os negócios suspensos por volta das 13h, mas em seguida ficou instável pelo resto do dia. Os papéis fecharam em direções opostas: as ordinárias (PETR3) em baixa de 0,43%, em 32,41 reais, e as preferenciais (PETR4) em alta de 0,20%, em 29,71 reais.

A companhia entrou com 90% de participação junto dos consórcios chineses Cnooc e Cnodc pela área de Búzios, onde já operava, e levou sozinha o bloco de Itapu. Os dois custaram 70 bilhões de reais valor que deve ser pago ao Tesouro até 26 de junho de 2020. Além do bônus de assinatura, a estatal vai compartilhar parte do lucro com a União. 

Para o estrategista-chefe da Eleven Financial, Adeodato Netto, o mercado “reagiu com o estômago” ao ser surpreendido com a baixa competição, mas não levou em conta os aspectos positivos da aquisição para a Petrobras. “Ela tende a capturar benefícios futuros ao adquirir áreas que já estavam no ‘core’ de seus negócios”, diz.

Analistas apontaram que a Petrobras enfrentava um dilema difícil neste leilão: por um lado, se via na obrigação de demarcar território e conquistar áreas estratégicas para exploração futura. Por outro, existe a preocupação de que o tamanho de sua participação na disputa possa comprometer a trajetória de seu endividamento.

A equipe de research da XP calculou que, excluindo o reembolso de R$ 34,1 bilhões do governo como parte da revisão do contrato original da cessão onerosa, a Petrobras deve fazer um desembolso líquido de R$ 29 bilhões no leilão, implicando um aumento da alavancagem para 2,22 vezes sua dívida líquida sobre o lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização (Ebitda), ante o nível de 1,96 vezes no terceiro trimestre.

Com isso, a XP acredita que a Petrobras terá poucos ganhos com a compensação do atraso da produção. “Na nossa visão, isso deve levar a um desapontamento das expectativas do mercado quanto à possível redução do endividamento da companhia com a entrada de tais recursos”, escreveu a equipe em relatório.

Estrangeiros

A falta de interesse dos estrangeiros na disputa contribuiu para que o dólar fechasse em alta de 2,22% nesta sessão, a maior em sete meses, para 4,0818 reais.

O sócio-fundador da Nord Research, Bruce Barbosa, avalia que o baixo interesse dos estrangeiros no leilão pode indicar que eles não estão dispostos a correr risco em mercados emergentes no momento. “O fato de não virem para a economia real é negativo porque teremos várias privatizações pela frente”, diz.