Bombeiros fazem rescaldo de escombros de prédio que pegou fogo em SP
Até o momento, os bombeiros só confirmam a morte de uma pessoa, que estava sendo resgatada no momento do desabamento
1 MAI 2018 • POR Agência Brasil • 10h39O Corpo de Bombeiros está fazendo o rescaldo dos escombros do edifício que desabou, após pegar fogo na madrugada dessa terça-feira (1º), no centro da capital paulista. O levantamento também está sendo realizado em um prédio vizinho que também foi atingido pelas chamas. Por vezes, a fumaça volta a sair dos escombros com forte intensidade. No prédio vizinho, é possível perceber que pequenos focos de incêndio ainda persistem. A edificação está com rachaduras em sua lateral.
Até o momento, os bombeiros só confirmam a morte de uma pessoa, que estava sendo resgatada no momento do desabamento. Parte dos moradores do prédio estão, junto com familiares e amigos, aglomerados em frente a igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do Paissandu.
Elaine de Oliveira, moradora do prédio há mais de dois anos, estava com o marido e duas filhas, de dez e de dois anos, no momento em que o incêndio teve início. Segundo ela, as chamas começaram no quinto andar, o mesmo onde ela morava.
“Não sei bem a hora, era depois da meia-noite. Escutei algo como uma explosão e depois só os gritos de fogo, desce, desce”, disse Elaine, que perdeu tudo que tinha no incêndio. Ela estava descalça, com a roupa de dormir em frente a igreja do largo.
Elaine, de 32 nos, contou que sua maior preocupação é com seus remédios controlados e com um balão de oxigênio que ela usava devido a problemas de saúde. “Fiquei um tempão para conseguir os remédios de graça, agora perdi tudo. Nenhum documento consegui salvar”. Até o momento da entrevista, por volta das 8h45, ela não tinha sido contatada por nenhuma órgão oficial.
Alexandro da Conceição, morador há três meses do edifício, estava dormindo quarto andar na hora em que o fogo teve início. Ele contou que pagava um aluguel de R$ 150 para morar no local, e que nunca havia percebido falhas na estrutura do prédio.
“Era pouco, mas eu pagava direitinho. Sou pedreiro e nunca tinha percebido qualquer problema na estrutura do prédio”, disse Alexandro, que vivia no local com a esposa e a filha. Ele contou ainda que tinha sido cadastrado pela prefeitura há uns três meses, mas que, depois disso, não foi mais contatado. “Agora quero encontrar um lugar para levar minha família”.
O fogo começou por volta das 1h30 no 5º andar, espalhando-se rapidamente até o desabamento do prédio, que ocorreu por volta das 3 horas. O local abrigava a antiga superintedência da Polícia Federal em São Paulo, localizada na avenida Rio Branco, na região do Largo do Paissandu.
A Secretaria de Assistência Social da Prefeitura de São Paulo informou que havia 92 famílias cadastradas no prédio, totalizando 248 pessoas. As vítimas serão encaminhadas a um centro de acolhimento. Segundo os bombeiros, são mais de 160 homens trabalhando no combate às chamas e 57 viaturas estão no local. Um helicóptero também ajuda na ocorrência. Equipes do Samu, da Defesa Civil, da Companhia de Engenharia de Tráfego e da Polícia Militar trabalham no local.
“Em um primeiro momento, vamos levar as famílias para um local de amparo, acalmá-las e alimentá-las. Depois disso, a Secretaria de Habitação fará o atendimento”, disse o secretário de Assistência e Desenvolvimento Social da Prefeitura de São Paulo.
Antiga sede da PF
O edifício Wilton Paes de Almeida é um prédio de 24 andares e dois patamares de sobreloja, com 11 mil metros quadrados, localizado na esquina da Rua Antônio de Godoy com a Avenida Rio Branco, no Largo do Payssandu. O prédio foi sede histórica da Polícia Federal na capital durante 20 anos, com grandes casos de repercussão nacional.
No edifício, ficou preso por algumas horas o argentino Adolfo Perez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz, no fim da ditadura militar. Também ficou detido o chefe da Máfia da Itália Tommaso Buscetta, após ser preso no Morumbi. Em 1985, o então chefe da PF, delegado Romeu Tuma, comandou do local as investigações para a identificação da ossada do nazista Josef Mengele, o chamado “anjo da morte” de Hitler.
O local estava em avançado processo de degradação. As salas, que antes eram departamentos da PF, se tornaram moradias separadas por madeira. A fachada tinha várias vidraças quebradas, com luz e água foram cortadas.
O comando do Corpo de Bombeiros divulgou que o estado precário da estrutura do prédio, como a retirada dos elevadores contribuíram para a propagação do incêndio, já que o fosso livre serviu como uma chaminé para o material inflável, como papelão e botijão de gás presentes nas moradias.
Escombros
A Prefeitura de São Paulo estimou em uma semana o trabalho de retirada dos escombros. Três quarteirões na região central de São Paulo estão interditadas para os trabalhos. Cães farejadores estão no local para busca por possíveis vítimas.
O segundo prédio atingido pelo incêndio foi evacuado e não corre risco de desabamento. Parte do teto da igreja Luterana, a primeira em estilo neogótica na capital, desabou e que também tinha orgão de tubos alemão e vitrais da mesma oficina do Teatro Municipal.
A Prefeitura de São Paulo informou que engenheiros e técnicos da Defesa Civil estão no local para avaliar os danos causados aos imóveis vizinhos. A CET organiza os bloqueios de trânsito na região. A companhia ainda informará detalhes sobre o esquema de interdição que funcionará a partir de amanhã.
Histórico
A Secretaria Municipal de Habitação atuava na ocupação do edifício por meio do grupo de Mediação de Conflitos, uma vez que no local estava prevista uma reintegração de posse movida pela Secretaria de Patrimônio da União. Uma vez desocupado, o imóvel seria cedido à prefeitura.
A Secretaria de Habitação realizou seis reuniões com as lideranças da ocupação, entre fevereiro e abril, para esclarecer a necessidade de desocupação do prédio, devido ao risco e à ação judicial.
No dia 10 de março, a secretaria cadastrou cerca de 150 famílias, com 400 pessoas, ocupantes do prédio. Desse total, 25% são famílias estrangeiras. Esse cadastro foi feito para identificar a quantidade de famílias, o grau de vulnerabilidade social e a necessidade de encaminhamento das famílias à rede socioassistencial.
A Prefeitura de São Paulo estima em cerca de 70 prédios ocupados na região central com aproximadamente 4 mil famílias. Trata-se de uma estimativa, uma vez que, em sua maioria, são prédios particulares. Nestes casos, cabe ao proprietário ações junto à justiça e às lideranças da ocupação.
A Secretaria Municipal de Habitação criou, em 2017, um Núcleo de Mediação de Conflitos, que monitora 206 ocupações em toda a cidade, com cerca de 46 mil famílias. Desse total, 25% da atuação do grupo ocorre em ocupações na região central, com 3.500 famílias. Para essas ocupações, o grupo atua no sentido de buscar uma solução conciliada com a desocupação voluntária e sem confronto.