No Cras, filhotes de papagaio vítimas do tráfico lutam para sobreviver e voltar à natureza
18 SET 2017 • POR Da redação com assessoria • 12h58Retirados da segurança de seus ninhos por traficantes de animais silvestres após dias de vida, duas centenas de filhotes de papagaio se agarram à chance que lhes resta de sobreviver e, quem sabe, um dia voltarem a voar livres na natureza como seus pais. São bebês com tamanhos diferentes, alguns nem os olhos abriram ainda, o que torna ainda mais brutal o crime do qual foram vítimas. Totalmente dependentes da boa vontade e do profissionalismo dos técnicos do Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras), eles recebem alimento no bico, calor e cuidado, e vão crescendo e cada dia de vida é uma vitória a ser comemorada. Nem todos sobreviverão.
A primeira remessa com 32 filhotes chegou ao Cras no dia 6 de setembro. Foram resgatados por policiais militares ambientais em Novo Horizonte do Sul. Estavam amontoados em uma caixa na garupa de uma motocicleta. A traficante, uma jovem de 18 anos, foi multada e vai responder por crime ambiental.
No sábado (16.9) chegaram mais 175 filhotes, resgatados durante barreira da Polícia Militar Ambiental (PMA) em Bataguassu. Os traficantes levavam os filhotes em caixas dentro de um veículo Corsa. Quando viram a barreira da polícia, retornaram e fugiram, abandonando os pássaros no mato. Um chegou sem vida ao Cras, outros muito feridos, com larvas; todos estressados e famintos.
Maria Igina Duarte Veiga é o nome da mãe adotiva dos pequenos. Duas vezes ao dia ela alimenta cada um, oferecendo papinha numa seringa. Troca a maravalha que forma a caminha e providencia para que todos estejam bem aquecidos e limpos. São filhotes com idades diferentes. Acomodam-se em grupos de 15 a 20 em caixas plásticas. Na natureza cada ninho tem, no máximo, quatro filhotes. Portanto foram violados mais de 50 ninhos pelos traficantes só nessas duas apreensões.
Se tudo der certo, daqui a 9 meses ou no máximo um ano esses pássaros serão devolvidos à natureza, afirma a veterinária Cláudia Regina Macedo Coutinho. Passarão por várias etapas até aprenderem a voar e conquistarem as condições ideais para voltar à liberdade em segurança. O Cras tem um cadastro de áreas aptas a receber esses animais; quando chegar a hora os técnicos vão analisar cada caso e decidir pelo local ideal, de preferência longe da presença de humanos, para que os pássaros reaprendam logo a prover o próprio alimento e se acomodar na natureza.
Dezenas de papagaios e araras lotam os viveiros do CRAS no aguardo do dia em que poderão voar livres pelos céus, mas nem todos realizarão esse desejo. Cláudia Coutinho explica que alguns chegaram ao Centro com as penas das asas aparadas, ou mesmo com fraturas, ou então foram domesticados e perderam o instinto selvagem. Ficarão no Cras indefinidamente ou serão levados a criadouros ou zoológicos onde terão espaços mais adequados. Mas o dia em que uma remessa toda encontra a liberdade é especial tanto para os bichos como também para os técnicos do Cras.
A Primavera é a época em que acontecem muitas apreensões de filhotes, a maioria nos municípios que fazem divisa com São Paulo e Paraná. A coordenadora do Cras, bióloga Nara Pontes, pede que as pessoas denunciem e ajudem a combater o tráfico de animais silvestres, diretamente na PMA em Campo Grande pelo telefone (67) 3357-1500 ou pelo 190 do Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops).