Sobá: de Okinawa para Campo Grande
26 AGO 2016 • POR • 11h35Em 1908, chegou ao porto de Santos o navio Kasato Maru, com imigrantes vindos do Japão para trabalhar nas safras de café, principalmente paulistas. A situação do outro lado do mundo não era boa, principalmente para os okinawanos, subjugados por terem seu território incorporado pelo imperador japonês Meiji, no fim do século 19. “Nesse contingente veio muita gente de Okinawa. Dos 781, 324 eram okinawanos, mais de 40%” explica o pesquisador Celso Higa.
Simultâneo à chegada do navio, teve início a construção da estrada de ferro Noroeste do Brasil, que cortaria o sul do antigo Estado do Mato Grosso, o que atraiu a vinda dos imigrantes recém-chegados para esta região. Logo, começaram a se estabelecer em chácaras próximas a córregos e fizeram várias colônias, escoando sua produção de hortifruti em feiras.
Foi na Feira Central que o sobá apareceu. Prato típico de Okinawa, a iguaria era feita para consumo dos feirantes, que degustavam o prato atrás de cortinas. A curiosidade atiçou o campo-grandense, que experimentou e gostou, fazendo com que o sobá se tornasse atrativo e passasse a ser comercializado.
Hoje, incorporado à cultura local, o prato foi tombado como patrimônio imaterial em nível municipal, e tem um festival dedicado a ele no mês de agosto. Só na Feira Central são 28 restaurantes de sobá, capazes de servir 6.000 unidades de sobá por noite.
Em relação ao prato original, o sobá de Campo Grande passou por adaptações. Nilton Kiyoshi Shirado, vice-presidente de Consultoria Financeira e Projetos da Associação Okinawa de Campo Grande, explica que no oriente, além de chuparem o macarrão tomando todo o caldo, que não é tão salgado por não levar tanto shoyu, há outros ingredientes. “A carne é de porco, e é uma costelinha do porco, vem com osso. Usam também um salame de peixe com o omelete”, descreve. Incorporado pela cultura local, hoje o prato tem até uma franquia, cujo nome é revelador desta apropriação: Sobá de Campo Grande.