Tereré: a bebida dos campo-grandenses
26 AGO 2016 • POR Júlia Beatriz • 08h32
Todo campo-grandense que se preze já tomou tereré ou ao menos participou de uma roda com a bebida. O costume de tomar a bebida feita de erva mate foi enraizada na capital sul-mato-grossense, se tornando um fator de agregação social. Em 2011, o tradicional tereré foi tombado como patrimônio cultural do Estado.
A origem da bebida refrescante ainda gera dúvidas. Uns, dizem que veio de uma tradição dos indígenas guarani, outros, afirmam que surgiu durante a Guerra do Paraguai, quando os soldados não podiam fazer fogueira para esquentar a água e acabavam tomando o tradicional mate paraguaio com água fria.
De preparo simples, a bebida é ainda mais apreciada quando as temperaturas da Capital Morena passam dos 30º mas para a maioria, não há hora nem lugar que não convenha um bom tereré. Em casas, parques e calçadas de avenidas da cidade, o tereré cria laços reunindo amigos e familiares em roda no fim da tarde com um copo e uma garrafa de água bem gelada. E para tomar tereré, não pode ser de qualquer jeito, não. Para os novatos no "ritual", é sempre ensinado que após beber o "guampo" - nome do copo utilizado para beber tereré - todo, você deve servir com a água antes de passar para o lado. É sinal de respeito. Alguns ainda dizem para que lado a roda deve girar, esquerda ou direita. A tradição é tanta que até música a bebida já ganhou, "Serve um Tera", da banda campo-grandense Curimba, fez sucesso quando lançada, confira a seguir:
No Mercadão Municipal, centro histórico da cidade, as ervas para tereré são os principais produtos disponíveis para a venda. E não são poucas. Com a popularização da bebida, veio as "invenções" em cima. Hoje, além da erva tradicional, o degustante pode experimentar ervas com sabor: abacaxi, tutti frutti, menta, menta com limão, menta com boldo e menta com uva são apenas algumas das opções disponíveis ao "tererezeiro" . Mesmo com a variedade de opções, a erva tradicional é ainda a mais escolhida entre os consumidores. É isso que afirma a vendedora Simone, de 27 anos, "Temos 19 sabores mas a que mais vende ainda é a tradicional", afirma. A vendedora, que vende desde os 20 anos, diz que os principais clientes de barraca de erva são os próprios campo-grandenses. "De vez em quando algum turista compra mas é mais por curiosidade mesmo", diz. A erva tradicional ainda é mais procurada mas não impede os campo-grandenses de inovarem em seu consumo. O suco de limão é a bola da vez: o amargo da erva com o doce e leve azedo do suco é preferência entre os terezeiros. Alguns chegam a tomar a erva com refrigerante de limão - mas ainda são minoria.
Apesar de ser uma tradição daqui, a erva não vem do Estado e sim do Paraná, o maior produtor de erva mate do Brasil. De acordo com Simone, também existem produtores na região de Maracaju, no Estado, mas a erva local geralmente não é escolhida pelos revendedores na Capital. "A erva de Maracaju muitas vezes vem queimada, as que vem do Paraná são de melhor qualidade", justifica. E por vir sempre do mesmo lugar, os preços no Mercadão são o mesmo: R$10 o quilo da erva tradicional e R$12 a erva com sabores.
E não é apenas para refrescar e reunir amigos ao final do dia que o tereré serve. Com o efeito estimulante da cafeína do mato, o tereré é um bom substituto para o tradicional café que dá energias. Exerce poder energético sobre o sistema nervoso central, estimula o vigor mental no trabalho cardíaco e a circulação de sangue. Além disso, elimina a fadiga ativando as funções físicas e atuando sobre os nervos e músculos.
A bebida também possui vitaminas do complexo, que ajudam no aproveitamento do açúcar nos músculos, nervos e atividade cerebral. Já as vitaminas C e E agem como defesa orgânica e benefício sobre os tecidos do organismo. A erva mate também favorece a diurese, atuando sobre o tubo digestivo e ativando os movimentos peristálticos. Assim, facilita a digestão e suaviza os embaraços gástricos. Mas, assim como tudo o que ingerimos, seu uso deve ser feito com moderação. Seu consumo pode causar diminuição na absorção de ferro e aumentar a pressão arterial, além de poder causar gastrites de intensidade leve quando preparado junto com suco de limão.
E aí? Ficou com vontade? Confira passo-a-passo como preparar seu tereré:
1. Adicionar a erva no guampo ou copo de plástico, de modo que atinja ¾ do conteúdo do utensílio;
2. Deitar o guampo ou copo em 45º, deixando a erva em apenas um lado do recipiente (isso serve para deixar o tereré mais bonito e parecido com o tradicional, mas se não quiser você não precisa fazer);
3. Molhar a erva com um pouco de água, para que ela fique inchada e atinja o topo do utensílio. Continuar com o copo inclinado durante esse passo, que deve durar de 30 segundos a um minuto;
4. Despejar água gelada, colocar a bomba no guampo ou copo e servir-se. Quando ver que a água está acabando, basta colocar mais um pouco no recipiente.