Opinião

REALIDADE: Tarifa justa para sistema de ônibus arcaico

15 JAN 2025 • POR Fayez Feiz José Rizk, arquiteto e urbanista • 10h23
Fayez Feiz, arquiteto e urbanista

Na campanha política passada, para um debate, fiz a seguinte pergunta: “Até quando iremos discutir tarifa cara de ônibus velho?”. Fiquei sem resposta, diante do evidente desconhecimento da real causa do problema tarifário de ônibus em Campo Grande.

Confesso que me sinto cansado, junto com alguns poucos técnicos, de apontar: o sistema de transporte coletivo de Campo Grande é arcaico, sem planejamento e vai, inevitavelmente, a persistir, levar à falência do próprio sistema e de seus operadores.

Os sintomas são claros: segundo as últimas informações que tive, esse sistema transportava 600 mil passageiros por dia e ultimamente não passa de 200 mil, com praticamente o mesmo número de ônibus. Ora, não é preciso ser um mago de finanças para detectar que o custo do sistema está se revelando inviável!

Infelizmente, as autoridades desconhecem a história dos transportes por ônibus em Campo Grande.

O já esquecido SIT – Sistema Integrado de Transportes teve origem no plano urbanístico elaborado por Jaime Lerner em 1.977/78 e implementado no começo da década de 90. O declínio e a desorganização do sistema tiveram marco inicial com a equivocada e desastrosa decisão de acabar com o terminal central do sistema, na antiga rodoviária.

Essa decisão foi apenas um “ponto final” de diversas decisões urbanísticas daninhas, como Planos Diretores que deram pouca ou nenhuma atenção a Mobilidade Urban, a desestruturação da Lei de Ocupação e Uso do Solo Urbano, que desfigurou a concepção da cidade planejada na época, com centralidade e vias (eixos) estruturais, sistema de estações de transbordo, ciclovias nas periferias, limitação de gabaritos de construção com o adensamento populacional adequado para sustentar o sistema de transportes, e tantos outros aspectos que foram destruindo a concepção original.

Outro gravíssimo aspecto é o tamanho exagerado da área urbana de Campo Grande, por exemplo, maior que a de Fortaleza, que tem mais que o triplo de população! Evidentemente, que a combinação de maior distância e menor população apta a ser usuária do sistema, maior vai ser o custo e maior a tarifa!

Infelizmente ainda há um desconhecimento de que transporte coletivo é apenas um dos aspectos da MOBILIDADE URBANA, tema muito complexo que sustenta todas as atividades da cidade, e por isso mesmo, requer planejamento urbano integral e não só controle de tráfego sob o título de “trânsito”, aliás, atividades conexas, mas conceitualmente diferentes.

Infelizmente, não vejo solução de curto prazo. Podem trazer nova e bem-vinda administração para o Consórcio que opera o sistema, mas enquanto não houver reforma emergencial do sistema, com a correspondente adequação da Lei de Ocupação e Uso do Solo e um controle rígido da expansão urbana e das edificações, principalmente as multifamiliares, a tarifa vai continuar cara, o número de passageiros irá diminuir ainda mais até a total derrocada do sistema de transporte coletivo.

Como um último lembrete da gravidade dessa situação: foi essa desestruturação do sistema a principal causa do declínio da região Centro de Campo Grande. Vale a pena uma discussão séria sobre o futuro da nossa cidade.