Opinião

OPINIÃO: Campo Grande perdendo a memória

10 SET 2024 • POR Fayez Feiz José Rizk, arquiteto e urbanista • 08h55
Fayez Feiz, arquiteto e urbanista

Campo Grande ficou grande depressa. E nessa pressa perdeu as referências históricas dos lugares e dos nomes.

Uma cidade sem história é uma cidade sem alma. Não vai aqui nenhum desprezo com tantos que hoje constroem a cidade.

Mas até mesmo a Prefeitura não respeita ou, o que é mais provável, os burocratas, especialmente os “de confiança” não conhecem a cidade, para tristeza da minoria dos nascidos aqui.

Poucos hoje sabem onde ficava o “vai ou racha”, no bairro do “Cascudo”, o “portão de ferro”, a “cabeça de boi”, desconhecem figuras históricas que dão nomes a ruas, misturados com outros desconhecidos, que estão lá por “homenagens” da falta do que fazer de alguns vereadores...

Pobre (Emilio) Schnoor, engenheiro francês que teve importância no traçado urbano de Campo Grande, e emprestava seu nome a uma rua, originada na antiga estrada que ligava a feira livre, localizada onde hoje é o Mercadão com o local da venda de gado, chamada de “cabeça de boi”,(por causa de uma caveira de uma cabeça de rês espetada em uma longa vara), hoje praça Cuiabá, com seu abandonado coreto. Schnoor, que teve a sua rua trocada de nome para - justa homenagem – João Rosa Pires e tascaram o seu nome em uma ruela estreita, de 100m, pomposamente chamada de “avenida”, no bairro Tiradentes. Ele deve estar revirando no túmulo com tal “homenagem”...

O “vai ou racha”, esquina da 14 de julho com a Euler de Azevedo, no bairro do Cascudo, abrigava um “bolicho” (sabem o que é isso?) e tinha esse nome pela dificuldade de vencer o barro da Euler em dias de chuva. Sei bem disso, com a “Boneca Cobiçada”, jardineira de meu pai que ligava Campo Grande a Rochedinho, Rochedo e Corguinho.

Aliás, o centro comercial de Campo Grande se originou ali e não na região da Rua 26 de agosto, que era o centro religioso e, por ironia, a zona “alegre” da cidade.

Aliás, sumiu da história o pioneiro árabe João Jorge, o maior comerciante do começo do século XX, que também tinha um grande depósito, que mais tarde foi o frigorífico do Polonês, no atual prolongamento da Avenida Mato Grosso. O açougue do Polonês era em frente ao colégio Dom Bosco, gerenciado pelo simpático “Baiano”.

Aliás, escrevo esse texto provocado por um erro de grafia do nome do Polonês, na avenida que leva seu nome: Antonio Teodorowicz e não Teodorowich na plaqueta mal ajambrada do semáforo.

Semáforo no caminho para o córrego Reveilleau, “revê-i-ou” não é “revê-í-ão, como a apresentadora da tv diz, o curso d’água do Parque do Prosa (apelidado de Nações Indígenas) homenagem ao Major Velcindo Reveilleau, dono de uma chácara onde se localizava o “falecido” Extra, em cima de uma das nascentes do córrego Maracaju.

Aliás, constatei com tristeza, que um jovem profissional de urbanismo não sabia que há um córrego canalizado sob a rua Maracaju.

Se não sabe que tem um córrego ali, jamais saberá quem foi Josetti, Barbosa, Pompílio, Baiano Boiadeiro.

Daqui a pouco vão esquecer de Manoel de Barros, Paulo Machado, Otavio Guizzo, Glauce Rocha, Aracy Balabanian, Delio e Delinha, Amambay e Amambaí, Nascimento (cantor), Antônio Mario, Agápito, Roberto Lara, Nassura, Zé Corrêa, Ramão Achucarro, Mario Mendonça, Ciro de Oliveira, Ailton Caldas, Oberdan, Jurandir Nogueira, Celso Costa, Arnaldino, Padre Agreither e tantos outros

Enfim, nossa identidade cultural está cada dia mais tênue. Rumo ao esquecimento. Aliás, como dizia Carlos Achucarro, o Juca Ganso: quem ouvir, favor avisar!