Opinião

OPINIÃO: Coração Peludo

Escutar André Rieu ou Iron Maiden, oito ou oitenta? Às vezes nos perdemos entre a escolha e qual o caminho certo

7 JUL 2024 • POR Sergio Maidana - advogado • 09h05
O advogado, Sergio Maidana - Arquivo Pessoal

Escutar André Rieu ou Iron Maiden, oito ou oitenta? Às vezes nos perdemos entre a escolha e qual o caminho certo. Ponderar e escolher para si, é uma situação cômoda, porém, escolher para outra pessoa é atitude condenável. O meu gosto não é igual ao seu, assim como minhas ideias pode não ser igual a de milhares.

Na cidade de São Paulo, a Câmara Municipal, ao invés de representar a população, passou a ditar normas autoritárias a quem pratica solidariedade alimentar. A história chega a ser repugnante com as suas várias facetas.

O vereador Rubinho Nunes, um advogado de 36 anos, em primeiro mandato, resolveu “partir para cima” do Padre Julio Lancellotti, fruto de uma ideologia patética que se julga “dono da verdade” e contra “comunista”. No ano passado o nobre edil tentou abrir uma CPI para “investigar ONGs” que distribuem “marmitex” aos 55 mil famintos que moram nas ruas da capital paulista.

A proposta da CPI, vingou, pasmem. Estive em São Paulo recentemente, e creio que o principal problema da cidade hoje, seria abrigo para os sem teto, que aumentou muito na última década (fruto da globalização que concentra ainda mais a renda no Brasil, fazendo da classe média pobre, e do pobre, miserável).

Ao ser apresentada em pauta para a abertura da CPI, que iria investigar “de onde vem a doação” para as ONGs ofertarem alimentos nas ruas, também ilustrando sobre a salubridade dos alimentos, descobriram no texto, após a colheita das assinaturas, tinha sido inserido menção clara de “investigação ao Padre Julio Lancellotti” e uma suposta suspeita de abuso sexual do clérigo, sem nenhuma prova. Imediatamente, como fugia da proposta inaugural, vários vereadores retiraram a assinatura, e naufragou a CPI do “jovem oriundo do Movimento Brasil Livre -MBL”.

Mas coração peludo – que carrega ódio dentro de si – não desiste nunca, apresentou um projeto de lei para “regularizar o uso de espaço de ONGS em doação de alimentos”. Pasmem, que o projeto passou em primeira votação, e se não fosse o grito de indignação da imprensa, iria à sanção do prefeito Ricardo Nunes (que já admitiu que vai vetar).

Pois bem, o projeto de Lei apresentado pelo mesmo vereador da CPI, Rubinho Nunes(que não é parente do prefeito), impõe várias normas para doação de refeições nas ruas de São Paulo, como, registrar na prefeitura a ONG, passar por inspeção da vigilância sanitária, apresentar nome e documentos de todos os voluntários na entrega de marmitex, limpar a área que será realizado a refeição com tendas, cadeiras, mesas, pratos e talheres, além da ONG, ter personalidade jurídica e deixar o local limpo após a refeição. Se não obedecer: multa de 17 mil reais para ONG ou doadores.

O projeto totalitário, sem nenhum conhecimento que as comunidades religiosas (católicos, evangélicos, kardecista, umbandista e outros) praticam a solidariedade em São Paulo, com dezenas de grupos cuja doação é de centenas de refeições por equipe, assim, inviabiliza a doação de refeições a população carente de São Paulo, podendo aumentar a violência urbana, que é típico do homem desesperado pela fome.

O nobre edil Rubinho Nunes, precisa depilar o coração peludo e abraçar a solidariedade e o amor ao próximo no restante do seu mandato, no mínimo pedindo arquivamento do ridículo projeto para não passar vergonha no futuro, como o homem mau que odeia pobre. Vamos depilar este coração peludo, vereador?.

Em tempo: da acusação de abuso sexual, o Ministério Publico abriu inquérito semana passada para apurar a perseguição do vereador Rubinho ao Padre Lancelloti, pois não foi apresentado prova alguma do ato.