Em conversas obtidas pela Polícia Federal (PF) após a prisão do general Mário Fernandes, o coronel Roberto Raimundo Criscuoli defendeu o fim da postura “democrata” adotada por Bolsonaro no fim de seu governo e a adoção de medidas radicais.
Os diálogos entre Fernandes e Criscuoli, que foram encontrados em equipamentos apreendidos com o general no âmbito da operação Tempus Veritatis, ocorreram entre os dias 1º e 6 de novembro de 2022, logo após a vitória de Lula nas eleições presidenciais. “Democrata é o cacete. Não tem que ser mais democrata agora”, escreveu o oficial.
A crítica de Criscuoli demonstra a apreensão do militar em adiar o golpe e, com isso, perder o apoio popular, além de classificar que uma “guerra civil” seria inevitável.
“Se nós não tomarmos a rédea agora, depois eu acho que vai ser pior. Na realidade, vai ser guerra civil agora ou guerra civil depois. Só que a guerra civil agora tem uma justificativa, o povo tá na rua, nós temos aquele apoio maciço. Daqui a pouco vamos entrar numa guerra civil, porque daqui a alguns meses esse cara [Lula] vai destruir o Exército, vai destruir tudo. Aí o povo vai dizer assim: ‘Agora que mexeram com você, vocês vão pra rua, vão resolver’. Então vai ficar feio”, afirmou.
Outra preocupação de Criscuoli estava no afastamento dos militares de maior patente a partir da posse de Lula. “Ele [Lula] vai destruir todo o Exército. Ele vai mandar todos os quatro estrelas embora. Vai ficar com o GDias [General Gonçalves Dias, fiel a Lula, que ocupou o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência] e alguns outros aí. Cara, não vai ficar legal, cara. É melhor ir agora. O povo tá na rua e pedindo, que daqui a pouco nós vamos ir por interesse próprio. Aí não vale. Aí eu não vou. Aí eu não vou. Então a hora de ir é agora, cara”, afirmou o militar.
O coronel ainda relembrou a frase de Bolsonaro, de que atuaria “dentro das quatro linhas”, para cobrar uma ação imediata contra a posse de Lula, além de afirmar que teme que a demora do golpe dê aos “vermelhos” mais tempo para organizar um contragolpe.
“Tem que ir agora que o povo está pedindo. Não porque eu vou mandar os generais pra reserva. Então eu acho que essa decisão tem que ser tomada urgente, cara. E o presidente [Bolsonaro] não pode pagar pra ver também, cara. Ele vai destruir o nosso país, cara. Democrata é o cacete. Não tem que ser mais democrata agora. Ah, não vou sair das quatro linhas. Acabou o jogo, pô. Não tem mais quatro linhas. O povo na rua tá pedindo, pelo amor de Deus. Vai dar uma guerra civil? Vai dar. Eu tenho certeza que vai dar. Porque os vermelhos vão vir ferozes. Mas nós estamos esperando o quê? Dando tempo pra eles se organizarem melhor? Pra guerra ser pior? Irmão, vamos agora” disse o militar.
“Fala com o 01 aí, cara. É agora. Hoje eu tô dentro. Amanhã eu não tô mais, não. Amanhã é o que eu quero dizer daqui a pouco. Por interesses outros eu não vou. Nem eu e nem a turma daqui. Um saco cheio de explicar pro civil que as coisas estão sendo tomadas, que tem um cara lá que tá fazendo isso, tem um pessoal que vai falar, tem um pessoal que tá acusando, estamos pegando prova. Porra, não dá mais, cara. Não dá mais. Não dá mais pra ter prova, não. Quer mais prova do que já teve? E o povo tá na rua pedindo. Vambora, pô. Pau”, completou.
Criscuoli é apontado como um dos “kids pretos”, oficiais de alta patente do exército, sejam da ativa ou não, que se especializaram em operações especiais do Exército, com foco nas ações de sabotagem e incentivo a revoltas populares ou “insurgência popular”.
Além disso, ele também foi membro, em 2021, da “Abin paralela” de Bolsonaro.
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