Viviane Orro, médica nefrologista e ex-secretária de Saúde de Aquidauana, ao destacar os cuidados fundamentais que os foliões precisam adotar, sobretudo diante de estatísticas oficiais que apontam para os impactos negativos registrados nesse período, priorizou que aproveitar os dias de carnaval é preciso redobrar os cuidados com a saúde e a segurança é potencializar a alegria que se manifesta durante a festa popular de maior tradição no Brasil.
Em três situações centrais, Viviane motiva o alerta. Os acidentes de trânsito, as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) e a violência de gênero. "São situações que se tornaram recorrentes nos dias de carnaval, principalmente por falta de uma forte e ampliada consciência preventiva", afirma.
De acordo com ela, a cultura do carnaval ainda não incorporou efetivamente essa consciência, haja vista as estatísticas que justificam as apreensões das autoridades e notadamente das famílias. A médica, que foi secretária de Saúde de Aquidauana e trabalhou no Hospital Beneficência Portuguesa (SP), um dos mais conceituados do Brasil, defende uma política publica de saúde que não se limite à campanha preventiva, mas que vá além, estreitando a proximidade e as relações entre o poder público e as comunidades.
GESTÃO
"Prevenir é melhor que remediar, diz a sabedoria popular. É correto. Mas não se pode entender essa prevenção como um gesto unilateral das autoridades sanitárias. É fundamental que o poder público esteja apto para reconhecer e tratar a política de saúde publica em sua mais ampla dimensão", enfatiza.
Segundo Viviane Orro, um dos itens determinantes para o setor é a qualidade da gestão. "Às vezes, o problema nem é a falta de recursos, mas de direcionamento, de estratégia, de atualização, tudo girando em torno da distância entre os gestores e a população".
Ao comentar situações locais específicas, Viviane aborda a situação da cidade em que nasceu, Aquidauana, cujo carnaval este ano será realizado em Piraputanga, um distrito que está entre as jóias naturais de Mato Grosso do Sul. Além da ênfase a ser dada à temática da sustentabilidade do meio ambiente, Viviane Orro destaca o desafio da sustentabilidade humana e reitera o apelo à atenção preventiva.
ESTATÍSTICAS
Ela cita números e estatísticas que apontam a recorrência de ferimentos sociais graves nos períodos carnavalescos. Dados da Confederação Nacional de Transportes (CNT) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) indicam que em nove anos os óbitos por acidentes nas rodovias federais aumentaram na média. Foram 130 em 2008 e em 2017 chegaram a 150, com uma média de 152 mortes por ano nesse período.
Da mesma forma ocorre a evolução dos casos de DST durante o carnaval, em especial nas notificações de doenças como a AIDS e a sífilis. Sobre esta, as autoridades já decretaram que a doença, detectada pela primeira vez na Europa medieval, voltou em forma de epidemia ao Brasil. "Se essa infecção não for tratada, há risco de a gestante sofrer aborto espontâneo ou de a criança nascer com malformação ou até risco de morte", diz.
No caso da AIDS, o relatório de Monitoramento Clínico do HIV apurou que 34% dos diagnosticados na faixa etária entre 18 e 24 anos não fazem tratamento com antiretrovirais. Além disso, persiste a negligência em relação ao uso de preservativos. O IBGE constatou, em 2015, que de quase um terço dos estudantes do nono ano do ensino fundamental sexualmente ativos, mais de 33% não faziam uso da camisinha ou similares.
Sobre a violência e os abusos sexuais, crime que virou tema da maioria dos carnavais deste ano, a médica é veemente ao recomendar que as pessoas molestadas façam a denúncia.