O abandono da duplicação da BR-163 pela CCR MSVia, concessionária que administra a rodovia, já reflete na classe dos caminhoneiros. A paralisação das obras causou desempregos e incertezas no futuro dos trabalhadores da categoria. De acordo com o Sindicam (Sindicato Dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens no Estado de Mato Grosso Do Sul), cerca de mil caminhoneiros foram prejudicados.
Desempregada, a caminhoneira Jackelyne Maia, de 32 anos, já começa a sentir os reflexos da paralisação das obras. “Eu estava trabalhando na Vobeto, empresa de transportes de Campo Grande, há seis meses. Puxava cimento para a rodovia a pedido da CCR, e a produção estava boa até começar a questão da paralisação das obras. A empresa onde eu trabalhei tentou segurar os funcionários, mas este mês a transportadora não aguentou e começou a demitir”, disse.
Jackelyne conta que por trabalhar a pouco tempo no local seu nome foi incluído na lista de cortes. “A transportadora optou por mandar os mais novos embora, inclusive eu. A justificativa foi que a culpa é da CCR que paralisou as obras. Não culpo a Vobeto, culpo a concessionária [CRR] que não se organizou direito e não se planejou”, acrescentou.
As filhas pequenas também sofrem
A demissão causou mudanças no financeiro da família já que com o que ganhava com trabalho na estrada é que a caminhoneira sustenta suas filhas de 10 e 3 anos. “Tive que tirar minha filha da aula de matemática e do inglês e com o acerto adiantei minhas contas. Muitas pessoas sofreram com isso”, salientou.
Ela conta agora busca outro emprego, mas na mesma área ficaria inviável. “Não sei quando volto a trabalhar nessa área, porque boa parte dos caminhões das transportadoras é de fora. Para mim não dá, tenho que ficar com minhas filhas, sou solteira e elas dependem de mim. Não posso ficar fora de casa quatro ou cinco meses”, acrescentou.
Desemprego
De acordo com o presidente do Sindicam (Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens no Estado de Mato Grosso do Sul), Osny Belinatti, de 65 anos, pelo menos mil caminhoneiros autônomos foram afetados. Em conversa com o JD1 Notícias ele ainda criticou o fato da concessionária continuar cobrando pedágio mesmo com as obras paradas.
Osny salientou ainda que há possibilidade de protesto por parte da categoria caso a cobrança do pedágio continue. “Mil motoristas autônomos foram prejudicados aqui no Estado. Sou contra a atitude da CCR, parou as obras e ainda cobra pedágio. O governo tem que tomar alguma atitude, se ninguém resolver nós vamos para as estradas nos manifestar”, disse.
Conforme Belinatti, o sindicato tem 19 mil trabalhadores filiados em Mato Grosso do Sul e que um profissional, para atravessar a BR- 163 no Estado, com um caminhão de nove eixos, paga em torno de R$ 500 a R$ 600 só de pedágio.
Entramos em contato com o Sindcargas (Sindicato dos Trabalhadores em Transporte de Cargas do Estado de Mato Grosso do Sul), mas o representante alegou não ter números de quantos profissionais foram prejudicados. Também contatamos a transportadora Vobeto, mas até o fechamento desta edição não obtivemos repostas sobre os números de demissões.
Paralisação
Em 2012 a concessionária venceu uma licitação para explorar a BR-163 em Mato Grosso do Sul. Dois anos depois o contrato foi assinado, uma das obrigações da empresa era duplicar 806 km da rodovia, mas somente 129 km foram feitos.
A concessionária anunciou no dia 12 de abril a paralisação das obras de duplicação em Mato Grosso do Sul. A empresa protocolou na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) pedido de revisão de contrato. Uma das alegações da CCR para paralisar as obras, foi à redução da arrecadação em 35%. Porém, mesmo com a paralisação das obras o pedágio continua sendo cobrado.
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