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Autor gay defende real representatividade na literatura brasileira

18 setembro 2024 - 15h23

Em entrevista, Bruno Haulfermet, escritor da romantasia YA "Depois das cinco", fala sobre a importância da real representatividade na literatura brasileira

Romance, fantasia, uma boa dose de mistério e muita diversidade: essa é a premissa de Depois das cinco, lançamento young adult do autor nacional Bruno Haulfermet. Novidade da Buzz Editora, esta romantasia narra a jornada de Ivana, uma adolescente que deixa de existir todas as tardes, quando o relógio marca seis horas em ponto, e ressurge somente depois das cinco da manhã do dia seguinte. 

Enquanto tenta esconder esse segredo a sete chaves, a garota acaba se apaixonando por Dario, um menino desconhecido por todos na província onde moram. O rapaz vive a mesma condição corporal, mas de forma oposta: sempre que ela retorna ao mundo físico, ele desaparece. Com encontros limitados a breves minutos diários, quando seus corpos estão translúcidos, os dois iniciam uma busca para descobrir como driblar o impasse temporal e viver essa paixão. Mas se deparam com uma teia de mentiras capaz de colocar seus destinos em risco.  

Em entrevista, Bruno Haulfermet revela as inspirações por trás do enredo e as reflexões humanas presentes na obra, além da relação com quadrinhos e o gênero de terror. O autor destaca principalmente a importância da representatividade na literatura jovem brasileira, por meio de personagens que dão voz à pluralidade de existências. 

Leia o bate-papo na íntegra: 

1. Ivana e Dario vivem um amor quase impossível em Depois das cinco, por causa da diferença temporal que dificulta a convivência entre o casal. Como surgiu a ideia de criar um romance no qual os protagonistas estão em tempos opostos, e qual lição de vida os leitores podem levar dessa leitura?

Bruno Haulfermet: A inspiração veio do filme A Casa do Lago, com a Sandra Bullock e o Keanu Reeves, onde eles ficavam nessa casa, mas cada um em um dado ponto do tempo. Havia uma diferença de dois anos entre eles. Eles começam a se corresponder, se apaixonam e tentam encontrar uma forma de viverem esse amor, apesar da questão do tempo. Daí veio a ideia de a Ivana só existir em um período do dia e do Dario em outro. O livro traz um alerta sobre o quão incompletos a gente pode se sentir ao longo da vida, à medida que nos conformamos com os acontecimentos que nos chegam. E carrega uma mensagem de que a gente fique atento e não se permita viver uma vida pela metade, sem plenitude. Temos o direito de ser quem quisermos e lutar por isso.  

2. A pluralidade é um aspecto muito presente na obra, a partir de personagens gordas, com diversidade racial e que se identificam como LGBTQIAPN+. Como escritor e homem gay, de que forma você enxerga hoje a importância da representatividade na literatura nacional?

B.H: Obrigatória, não apenas na literatura nacional, mas em todos os veículos artísticos. Cresci nos anos 90 e não tive oportunidade de me ver representado em personagens. E, não vendo personagens gays, foi mais difícil me sentir parte do mundo. E como você – ainda muito jovem, com uma personalidade em formação – faz quando simplesmente percebe que não se encaixa em nada? Por ter vivido isso diretamente, assumi o compromisso de não ter essas “ausências” nas minhas obras. É de extrema importância apresentar personagens diversos, não apenas em situações pouco/não-convencionais, mas também dar voz e relevância a eles. É assim que, a meu ver, o leitor vai se sentir visto, respeitado e vai vislumbrar para o seu futuro um milhão de possibilidades. 

3. Província de Rosedário, com as rosas de caule rosado e seus mistérios, pode ser considerada até mesmo uma personagem secundária do livro. O que inspirou a criação desse cenário e como ele reflete os temas abordados?

B.H: As próprias rosas são tão protagonistas quanto Ivana e Dario, na mesma medida. Eu quis criar um cenário que fosse bastante visual e que conseguisse transmitir a atmosfera intimista de forma bem fácil. Me inspirei em cidadezinhas da Itália e da França, rústicas e pequenas, para que a Província de Rosedário pudesse encantar pela beleza e, ao ser revelado o plot, tivesse um contraste bem grande com a coisa terrível que acontece por lá. Ser um lugar de poucos habitantes também reforçou o quesito “fofoca”, onde todo mundo se conhece e qualquer passo errado pode e vai repercutir em todos os cantos de lá, o que, por si só, já é bem assustador.  

4. Como designer por formação, de que maneira sua bagagem profissional influenciou a forma como você descreve cenários, personagens e as cenas no livro?

B.H: Carrego comigo a máxima de que quando algo é bem-conceituado, absolutamente tudo pode encantar. Então sempre fiquei atento para que o conceito do livro não se perdesse. É muito importante ver – e não esquecer – que o livro é um produto. E como tal, precisa estar lapidado para o leitor/consumidor. Capítulos objetivos, descrições claras e sem delongas, diálogos interessantes e reais, entre tantos outros aspectos que precisam ser levados em conta para, ao mesmo tempo, não frustrar o leitor e proporcionar uma experiência de imersão inesquecível. Da parte visual: capa e todo material de apoio, impresso ou digital, também vai conversar com esse conceito. E, como designer, fica bem mais fácil conduzir esses alinhamentos de forma que se crie uma identidade sólida, porque eu sei o que vai funcionar ou não diante daquele contexto.  

5. O seu amor pela leitura começou com quadrinhos e evoluiu para livros de terror e fantasia. Como essas influências moldaram seu estilo de escrita no young adult Depois das cinco, em que você mistura romance, fantasia e suspense?

B.H: Os quadrinhos tiveram um papel fundamental no desenvolvimento do meu vocabulário, antes dos livros, além de ter esse “elemento fantástico” bem visual. Embora eu escreva/assista romance e fantasia, meu gênero da vida é o terror. É o que mais consumo desde sempre, e é o gênero que mais me traz inspirações. Por conta disso, é inevitável que as minhas obras tenham elementos de mistério, suspense e até uma dose macabra. Em Depois das Cinco não foi diferente: apesar do romance e da fantasia, a obra não é totalmente água-com-açúcar e tem momentos de prender o fôlego.

6. Antes de ser publicado pela Buzz Editora, Depois das cinco foi um sucesso no Wattpad. Agora, você lança a obra com exclusividade durante a Bienal de São Paulo. Como essa transição do digital para a publicação tradicional impactou sua carreira enquanto autor estreante?

B.H: Depois das Cinco teve uma grande aceitação no Wattpad, tendo inclusive sido shortlist no The Wattys (premiação interna e oficial da plataforma) e semifinalista em um concurso da Galera Record. O impacto do digital para o físico é enorme: a primeira coisa – a mais legal e também a mais clássica – é poder ver o resultado do seu trabalho literalmente na palma da sua mão. O livro físico ainda tem uma força muito grande e isso facilita a aproximação com o leitor, em uma sessão de autógrafos, por exemplo. Aprendi muito com o processo em si, desde a assinatura do contrato até a distribuição. Conheci profissionais incríveis. O próprio convite para a publicação foi um reconhecimento muito gratificante e que mostra que meu trabalho está sendo bem-visto. 

Sobre o autor: Bruno Haulfermet sempre foi ligado à arte. Seu amor precoce pela leitura se deu graças aos quadrinhos da Turma da Mônica e, com o passar dos anos, foi se estendendo aos livros. Ainda na adolescência, começou a escrever contos de terror e fantasia baseados nos volumes de Goosebumps. Entusiasta da cultura pop, sobretudo a dos anos 1990, Bruno é designer por formação, já foi colunista do blog Plugcitários e embaixador do Wattpad, onde se tornou líder de curadoria de conteúdo. É fã de animes e filmes hollywoodianos, adora frappuccinos e generosas fatias de bolo caseiro. Depois das cinco é o romance de estreia do autor. 

Tem alguma sugestão de pauta? Fale com o colunista Jhoseff Bulhões pelo e-mail: [email protected]
 

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Foto: Divulgação