A luta contra o feminicídio é um dos temas principais da Marcha das Mulheres no Distrito Federal, que tem como lema "Pela vida de todas as mulheres, resistiremos!". O ato deste ano foi organizado em formato de cortejo. Cada uma das 14 alas representava um grupo específico. Entre eles: Mulheres do Axé, Movimento de Mulheres Negras, LesBiTrans - de mulheres LGBT - e Feminismo Popular.
"As mulheres estão sofrendo, mas comemoramos, estarmos vivas. Não abaixaremos a cabeça", diz Hellen Frida, uma das organizadoras, representando a Casa Frida, espaço cultural localizado em São Sebastião, a 22 Km do centro da capital.
No ano passado, 53 assassinatos de mulheres foram classificados como feminicídio pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, mais do que o dobro registrado em 2017: 24 casos. Segundo o ministério, houve 7.036 tentativas de feminicídio em 2018 - 2,5 vezes a mais do que no ano anterior: 2.749.
A concentração começou às 16h em frente à rodoviária de Brasília, no centro da cidade, na Esplanada dos Ministérios. A marcha começou por volta das 19h. Mulheres de todas as idades, das mais diversas partes do DF estavam presentes. Parlamentares federais e distritais também participaram do ato.
Homenagem
A dona de casa Cleudiane Ferreira, 40 anos, era uma das mulheres no ato. Em um dos braços, ela carregava o filho menor. A mais velha, puxava a barra da blusa: "Vamos mãe". Cleudiane confessa que trouxe as crianças porque não tinha com quem deixá-las, mas fazia questão de estar presente. "Hoje é nosso dia. Temos que lutar por nossos direitos", diz.
A vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), cujo assassinato completa um ano sem solução no dia 14, foi homenageada. "É um crime não solucionado que fez com que a gente entendesse a importância de ocupar esses espaços, a importância de termos mais mulheres como ela ocupando mais cadeiras de poder", diz a publicitária Carola Oliveira, de 35 anos.
Entoando gritos como "Nenhuma a menos, vivas nos queremos" e "Juntas somos gigantes", o grupo se aproximou do Congresso Nacional. O cortejo teve que virar uma rua antes da alameda das bandeiras dos estados brasileiros, mais próxima do Congresso. Geralmente, as manifestações vão até esse ponto. Segundo a Polícia Militar do DF, isso ocorreu para que o trânsito não fosse prejudicado.
De acordo com a Polícia Militar, a marcha contou com cerca de 1 mil pessoas. A organização estimou a presença de 5.000 mulheres.
As manifestações ocorrem em pelo menos 45 cidades brasileiras, incluindo 17 capitais, para marcar o Dia Internacional da Mulher. Os atos da Marcha Mundial das Mulheres defendem o fim da violência, o respeito aos direitos civis e direitos reprodutivos e sexuais.
São Paulo
Na maior cidade brasileira, a concentração para o ato começou às 16h, em frente ao Museu de Arte de São Paulo, na Avenida Paulista. A caminhada saiu por volta das 18h30 até a Praça Roosevelt, com a participação de movimentos sociais, partidos, centrais sindicais, organizações e coletivos.
A manifestação pediu o fim da violência contra a mulher e lembrou o assassinato da vereadora Marielle Franco. Os manifestantes carregaram cartazes com fotos da vereadora.
Integrante do Movimento Negro Unificado, Luka Franca destacou o aumento da violência contra as mulheres. "Nos últimos meses, a gente vê um aumento de feminicídio, seja de mulheres trans e em especial de mulheres negras no nosso país, que já era gigantesco", disse.
As mortes qualificadas como feminicídio em São Paulo aumentaram 12,9% em 2018 na comparação com o ano anterior, conforme dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo. Foram registrados 148 assassinatos no ano passado e 131 em 2017. O homicídio qualificado como feminicídio foi definido pela Lei nº 13.104 de 2015, que estabelece penas maiores para os casos em que o assassinato é motivado pelo fato da vítima ser mulher.
Machismo
O feminicídio corresponde a 27% do total de homicídios dolosos de mulheres no estado de São Paulo, que somaram 548 casos em 2018. Desde que a lei foi instituída, a morte de mulheres por feminicídio tem aumentado.
Moradora do remanescente de quilombo de Barra do Turvo, Alana Cristina Pereira dos Santos participou pela primeira vez do ato na cidade de São Paulo. "O ato é importante por causa dessa violência toda contra as mulheres e contra a reforma da previdência. A sociedade está precisando abrir os olhos para isso", disse Alana.
A Marcha Mundial das Mulheres, organizadora do ato, criticou a proposta de reforma da Previdência. "A reforma da previdência é um ponto chave para nós, mas estamos também na rua contra o machismo, contra o racismo, contra a violência, que tem aumentado no Brasil”, disse Sonia Coelho, integrante da Marcha Mundial das Mulheres.
Rio
No Rio de Janeiro, a concentração para a passeata começou às 16h, junto à Igreja da Candelária, reunindo grupos feministas, lideranças estudantis e representações sindicais. Os manifestantes, na maioria mulheres, entraram na Avenida Rio Branco às 18h, rumo à Cinelândia, tradicional ponto de atos políticos no centro da cidade.
Cartazes e faixas traziam reivindicações como liberdade de parto, a favor do aborto, contra a violência e pela igualdade de direitos. Também estampavam o nome e o rosto da vereadora Marielle Franco. Por causa da manifestação, o trânsito teve que ser desviado por vias alternativas, causando engarrafamentos, mas sem maiores repercussões.